INTRODUÇÃO A LÉVI-STRAUSS
FRÉDÉRIC KECK
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Editora Contraponto
Área FILOSOFIA
Idioma Português
Número de páginas 392
Edição 2013
ISBN 9788578660819
EAN 9788578660819
Ao longo da história, o exercício da antropologia admitiu duas abordagens bem diferentes. Exemplo da primeira foi Sir James Frazer (1845-1941), homem de vasta erudição que procurou observar o mundo em grande escala, a partir dos livros, sem ter contato direto com a vida dos povos primitivos que descreveu. Exemplo da segunda foi Bronislaw Malinowski (1884-1942), cuja obra se baseou em pesquisas que realizou pessoalmente, durante quatro anos, em uma minúscula aldeia da Melanésia.
Claude Lévi-Strauss (1908-2009) experimentou os dois caminhos. Foi um intelectual da tradição erudita de Frazer, mas não buscou construir uma obra detalhista e enciclopédica; fez trabalho de campo como Malinowski, mas não compartilhou tão extensamente a vida cotidiana dos povos que estudou.
Nomeado professor de filosofia na França em 1931, Lévi-Strauss veio para o Brasil em 1935 para ensinar sociologia na Universidade de São Paulo e pesquisar povos indígenas. Não pretendia descrever sociedades específicas, e sim compreender melhor o espírito humano. Suas observações sobre estruturas de parentesco, mitos e sistemas primitivos de classificação levaram-no a fundar a antropologia estrutural.
O que chamou de "estruturas" não são realidades empiricamente observáveis, mas construções intelectuais abstratas que pretendem tornar inteligível o real. Para ele, a cultura funciona como uma linguagem e a vida social é um sistema de signos. Assim como o indivíduo falante não é capaz de explicar os mecanismos da língua que usa, os integrantes de uma sociedade também desconhecem a natureza profunda das práticas sociais em que estão imersos.
Daí a simetria entre as duas disciplinas: a linguística procura encontrar os princípios gerais que se escondem atrás da diversidade das línguas, enquanto a antropologia estrutural busca desvelar as propriedades fundamentais que são comuns às culturas humanas. Para isso, é inútil acumular observações sobre fatos, pois elas nunca serão exaustivas. É preciso selecionar os elementos mais significativos e analisá-los extensa e cuidadosamente, construindo modelos que nos permitam compreender todos os fenômenos do mesmo tipo. O que se busca é descrever os aspectos inconscientes da existência social, tendo em vista evidenciar os elementos universais do pensamento humano e as leis gerais do nosso comportamento.